quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O "BEM SUCEDIDO"

Ontem me perguntaram qual era a minha concepção de "bem sucedido", eu disse de impulso que era "a quebra do capitalismo, viver do mais necessário possível, reforma agrária, acabar com a desigualdade social" e a mesma pessoa me perguntou "e vai viver de que?" e eu respondi "daquilo que a terra dá" e ela continuou "mas a terra não está dando mais nada". Para não prolongar a discussão, eu parei por aqui. Mas é claro que minha cabeça não parou de pensar. Ora, se a terra não dá mais nada, como que eu consegui me alimentar durante 24 anos e ainda assim sobrevivi? Mesmo que fosse criado em laboratório, não há nada que esteja no laboratório que antes não tenha passado pela natureza, ou seja, pela terra. Bom, diante dos fatos eu fiquei me questionando o que seria o tal "bem sucedido". É claro que dei uma resposta não muito concreta, mas penso que o ideal de sucesso esteja atrelado a felicidade. Não tem como falar de um sem falar do outro. Acontece é que os seres humanos (bípedes com encéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor...rs)inseridos no sistema vigente, acreditam e querem que os outros acreditem que a felicidade e o sucesso está diretamente relacionado ao acúmulo de capital, ou seja, ter muito dinheiro! Ontem tentaram me convencer disso, tentaram me vender uma proposta de felicidade vinculada ao bem estar da saúde. A indústria da saúde junto a indústria farmacêutica não tem dó hein, é o famoso pac man, ou topa tudo por dinheiro. Voltando ao tema, o "bem sucedido" pra mim é aquele que consegue abrir mão dos luxos materiais pra viver uma vida simples, com somente o necessário, se alimentar naturalmente, se exercitar, não visar riqueza material, ter muitos amigos, ler sobre tudo, ter um emprego que vise seu crescimento intelectual... daí, após tudo isso, posso dizer que o crescimento desse bem sucedido visará para uma postura mais esquerdista (como foi minha resposta acima). Essa reflexão não é uma apologia aos estados de direita ou esquerda, mas uma reflexão acerca do que é necessário para você sobreviver bem nesse sistema pac man. Sustentabilidade também é um termo que tem lugar nesse texto. Pessoas costumam vender essa ideia sem falar no "não produzir, não consumir exacerbadamente", não falam do fim do sistema capitalista. Ai ai, santa hipocrisia. Também me sinto hipócrita por ter um ideal de bem sucedido e ainda não consegui chegar lá. Ainda não sou bem sucedida, tenho minha felicidade em ato. Ainda tenho um emprego que visa capital, tenho carro e vivo com meus pais. É um processo gradativo até chegar no meu lugar ao sol e ter uma casinha no pé da cachoeira. Pode ser utopia, mas o que seriam dos sonhos se as utopias não existissem no ideário? Não consigo escrever esse tipo de coisa sem citar a célebre frase do livro Le petit prince "o essencial é invisível aos olhos"... e você aí, querendo acumular capital enquanto tem gente que nunca comeu nem mesmo um ovo frito.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Sobre Cotas: Texto redigido por minha aluna do 3º ano do ensino médio, Vitória Moura Leite

Em se tratando de cotas, os argumentos são geralmente para o lado negativo da coisa. Os alunos de escolas particulares geralmente se sentem injustiçados, boicotados pelo o governo, vendo todo seu esforço durante o ano letivo para passar no vestibular sendo diminuído pela desigualdade no país. Todos sabemos que não é a melhor solução para o problema da educação no país, mas sabemos também que é a "solução mais viável por hora", entretanto, ainda todos também sabem que o país faz muita vista grossa para esse problema e, por isso, a hora adequada para acabar com essas restrições para o ingresso no ensino superior, ao que indica a vontade tanto do governo quanto da população, nunca chegará. Mas de todas as reclamações que li sobre, uma me deixou particularmente intrigada. Muitas pessoas afirmam que, com as cotas (leia-se cotas para escola pública, não estou falando das raciais) há um preconceito quanto a medição da capacidade dos alunos, ou seja, eles evidenciam com isso o fato de que alunos de escolas públicas e escolas particulares têm capacidades diferentes, e ficam indignados, acham o fim do mundo. No entanto, o conhecimento, especialmente o "voltado para o vestibular", é adquirido por meio de estímulos (e por estímulos entenda-se uma escola na qual professores estejam presentes e ensinando à medida que o ambiente proporcione boa convivência) e os estímulos não são os mesmos nas duas instituições, não por culpa de professores (claro que há casos e casos), mas pelo fato de que todas as mazelas sociais do Brasil se evidenciam num lugar em que a diversidade humana se torna limpa e sem maquiagens. A discrepância abrange questões como a carga horária, e até o fato de que, muitas vezes, professores formados em uma disciplina ministram outra! Hoje mesmo discutimos uma coisa parecida na aula de matemática, sobre como esse ensino voltado para o vestibular tira a importância do real conhecimento, você aprende um massete matemático para otimizar seu cálculo, você não resolve o exercício analisando a situação, você o resolve porque viu em um exemplo que uma forma x é mais rápida que a forma y, decora aquilo e passa no vestibular. Isso significa que você é mais capacitado que qualquer outra pessoa? Não! Todos temos as mesmas capacidades, o modo como elas são desenvolvidas é que difere. E é por isso que existem essas cotas para alunos das escolas públicas, eles não tem as mesmas oportunidades que nós, especialmente nós onze, que temos 6 aulas de matemática por semana, 7 de língua portuguesa, dentre outras... Acredito que não deveríamos nos revoltar de tal forma contra as cotas, há outros argumentos que as desmascaram de forma muito mais embasada. Sabemos muito bem porque elas existem e sabemos que elas não deveriam existir, isso nos basta. Reclamar não cabe a nós. Fomos de alguma maneira privilegiados. É dever do governo prover uma educação assim como a nossa para todos, mas por motivos que todos também sabemos, isso acontece. Não é nossa tarefa julgar os alunos de escolas públicas de menos capacitados, ou jogar no governo esse preconceito talvez existente por parte de alguns contra eles. Sempre pensei que as cotas no Brasil deveriam ser estabelecidas de tal maneira, e concordo com 50% para cada lado. O nível do ensino superior não cai por isso, pelo contrário, serve até como estímulo. É preciso que todos se lembrem que a questão aqui não é capacidade e sim OPORTUNIDADE. Desabafo de alguém que ficou profundamente pensativa após ter lido tantas pessoas dizerem que as cotas medem capacidade... Ainda assim o outro texto tinha ficado melhor :( Enfim, é isso... Essa é uma questão legal de debatermos :)

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Um brinde à covardia

Maria era jovem, diferente, gostava de observar mapas, de leituras non sense e ficar sozinha. João era turrão, inteligente, gostava de ver filmes japonês. Duas pessoas muito diferentes, o que os uniu foi o gosto musical. Numa noite qualquer em um lugar qualquer eles se entreolharam e viram que havia algo de diferente. João quis comprar Maria. Deu-lhe presentes e conversa boa. Maria sentiu-se importante. João queria mais, Maria não sabia o que queria. Certa vez João convidou Maria para ir em sua casa. Maria foi, como quem não quer nada. João disse com todas as letras que queria entrar em Maria e ela, sem muito dizer, na verdade queria o mesmo. Na manhã seguinte João acordou estranho. Colocou Maria dentro de um carro e a levou para longe. Maria ficou sem entender, estava angustiada. João a deixou perto de pessoas conhecidas, disse que ela estaria segura e poderia ficar despreocupado. Maria ainda estava sem entender, com o gosto estranho da nostalgia de ontem. Tempo se passou e João nunca mais quis Maria. Ele simplesmente sumiu. Maria ficou ali, confusa e com medo. Maria tentou fazer algo por ela, não quis mais procurar João, ela pensava que tudo tinha sido um sonho, ou coisas da sua imaginação. Ela não conseguia acreditar que João se interessara por ela. Maria sempre teve complexos e sua baixo estima sempre me incomodou. Apesar de tudo, até que era uma boa pessoa. João? Nunca mais deu notícias, as vezes eu realmente penso que Maria criou toda essa história, mas não. João abandonou mesmo Maria sem avisá-la e sem motivos que ela possa compreender. Maria, por sua vez, fez uma promessa a si mesma: prometeu nunca mais se envolver com qualquer João que tivesse bom gosto, boa conversa e presentes. Maria queria ser autossuficiente. Ainda não sei se ela conseguiu. Mas por que Maria fez isso? Por que ela queria se afastar de todos por uma única experiência? Ora, Maria é covarde! Ela tem MEDO. Isso mesmo, M-E-D-O. Mas medo de que? Medo de sofrer? Viver é sofrer, Maria, aprenda isso. Mas Maria é intensa, não gosta de "só uma noite". Ela renunciou a liberdade, renunciou as boas conversas, renunciou o "carpe diem", ela quis renunciar sua vida! Pára, Maria, que coisa chata! Eu não a entendo. Maria vive sem querer viver e age muitas vezes por impulso de sua consciência (ou seria de seu subconsciente?). Não sei. Mas Maria precisa dar um jeito em sua vida e não depositar todas suas esperanças em atitudes alheias. Ela precisa perder as chaves.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Gotas: não quero que entrem no meu copo.

Quando se é de uma classe menos favorecida, é difícil sobreviver na sociedade sem a cobrança alheia e a autocobrança de que se tem que trabalhar muito para ganhar dinheiro, isso seria um caminho para a "felicidade". Quando se pensa contra esse fato, daí você sofre as consequências. Você tem que ganhar dinheiro honestamente, não importa como, não importa se você gosta do seu emprego ou não, mas você tem que ganhar dinheiro. Está feliz? Não importa, você ganha quase 1.500 reais, quem na sua idade ganha isso? Você é nova, acabou de sair da faculdade, ganha bem, então você necessariamente tem que ser e estar feliz com sua situação. Daí que você se sente forçada a trabalhar, porque pra ser feliz precisa de muito dinheiro. Então você obedece tudo, se envolve com coisas e em situações que NUNCA quis, mas, NÃO IMPORTA, você tem um salário pra sobreviver na sociedade selvagem que te cobra coisas das quais você não se importa no momento. Você não tem opção. Pessoas falam "não se sinta obrigada", "se quiser sair, saia, mas pensa bem porque o SALÁRIO É MUITO BOM"... mas e a minha felicidade em ato a qual busquei? Pra que me formei? Pra ganhar dinheiro? Não, se eu quisesse ganhar dinheiro eu montaria um motel ou uma igreja, com certeza o lucro é bem maior do que dar aulas. Óbvio que quero ganhar bem, aliás, o suficiente pra eu sobreviver, mas quero fazer isso sorrindo e não sofrendo gastando minha saúde em prol de coisas as quais não gosto e nunca quis. Depois ficarei velha e vou olhar pra trás e ver o tempo que perdi fazendo coisas para ganhar dinheiro. Não, não quero que essa gota caia no meu copo. Quero abandonar o barco, mas eu preciso de dinheiro :(

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Títulos: pra que?

Eis os dilemas da vida. Assim que o grande ditador do mundo ocidental disse que você tem que concluir a escola, ele diz que você tem que fazer uma faculdade, trabalhar, ficar rico, casar, ter filhos, ficar aposentado, viajar, cuidar dos netos e morrer. Ok. Mas algumas pessoas escolhem fazer faculdade, pós-graduação lato sensu, mestrado, doutorado, pós doutorado, livre docência e depois morrer. Já outras pessoas escolhem juntar a opção A com a opção B e depois morrer. Tá, eis a questão: eu não sei qual escolher e não sei porque estou tão preocupada com isso. Só sei de uma coisa: não estou fazendo o que eu queria fazer. Ou melhor: não sei o que quero fazer, só sei que o que estou fazendo agora não é o que eu queria fazer. Entende? É complicado. Eu me cobro muito, sei disso, quero ver todo mundo bem e feliz. Minha família me preocupa, meus amigos me preocupam, tenho zelo por todos, mas e eu? Quem vai cuidar de mim? Eu deveria cuidar de mim. Eu deveria amadurecer e saber o que eu vou fazer com o que fizeram de mim. Mas eu não sei! Quero aproveitar tudo, fazer tudo que posso enquanto ainda tenho poucas responsabilidades e ninguém depende de mim. Mas como? O que seria aproveitar esse tudo? Fazer mestrado? Fazer outra graduação? Mudar de país? Fugir e morar no meio do mato pra viver na natureza selvagem? EU NÃO SEI! Atualmente estou passando por uma crise: decidi prestar mestrado. Ok. Mas, pra que? Pra obtenção de mais um título? Pra que? Pra dar aulas em faculdades... mas pra que, sendo que eu estou adorando dar aulas pra adolescentes? Então a obtenção de títulos seria algo pra massagear meu ego e dizer aos outros: "oi, eu sou mestre, mereço mais respeito porque tenho mais títulos." PRA QUE TUDO ISSO GENTE? Daí que fiz um projeto, ficou legal, porém pragmático demais e a filosofia é teórica demais. PRA QUE MAIS TEORIAS? PRA QUE? Pra que vou confrontar teorias, fazer uma monografia puramente teórica que somente servirá ao entendimento da comunidade acadêmica? Por que não posso fazer algo prático aplicável na sociedade, algo que acrescente na minha vida e na vida da comunidade? Filosofia, por que me decepcionas neste momento? Até tu me abandonaste! Quer saber? Pra eu fazer algo prático que sirva para os demais e não somente a uma determinada classe, eu não preciso de títulos! Eu preciso de projetos e ação! É então que alguém grita em meus ouvidos: ALINE, VÁ EM FRENTE, PELO AMOR DE DEUS!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Para os meus netos, sobre amigos



Antes de vocês dormirem, deixe-me contar uma história, resumidamente.
Há algum tempo atrás a vovó fez faculdade de filosofia no interior do Paraná, numa cidade chamada Jacarezinho, é bem longe e fica no Brasil.
Fui pra lá aos 19 anos de idade. Era uma mulequinha, nunca tinha saído de casa, muito menos para morar em um lugar onde eu só conheci no dia da prova do vestibular. Naquela época as pessoas eram selecionadas para ingressarem na universidade por meio de uma prova chamada vestibular, que por sinal era bem difícil, mas aquela especificadamente estava fácil... não tão fácil, mas estava bem mais legal de fazer do que as outras que eu já tinha feito.
Passei em 4º lugar para meu espanto e o espanto de todos, pois ninguém botava muita fé em mim, nem eu mesma... hahaha... é engraçado, meus queridos, eu sei, mas é a realidade... a vovó aqui já foi muito insegura.
O ponto em que eu quero chegar com vocês nem é tanto a faculdade nem mesmo o ato de ser insegura e morar sozinha, o fato é que onde quer que você vá talvez você não tenha tanta sorte que eu tive de encontrar amigos, mas não são qualquer amigos, eu estou dizendo dos melhores amigos que uma pessoa pode ter. Na minha terra natal sempre tive muitos amigos, sempre gostei demais de todos eles, mas achava que seria incapaz de fazer novas amizades duradouras, mas eu estava enganada.
Essa história é sobre amigos.
Eu fui uma pessoa muito feliz em 4 anos que fiz filosofia. É claro que chorava muito, sentia saudades da minha família, mas eu SEMPRE tive amigos por perto. Amigos pra chorar, conversar, desabafar, abraçar... enfim... amigos.
Contando essa história pra vocês, me passa um filme na cabeça de como fui feliz com aqueles amigos, aquelas almas boas que cruzaram a minha vida e a fizeram melhor. Impossível citar todos os nomes... pois foram muitos, mas muuuitos amigos... de todas as idades, religiões, cores e manias... eu tive uma família constituída de muita amizade, meus netos, isso eu posso dizer com todo amor que me cabe. Meus amigos simplesmente foram os melhores!

Ah, vocês dormiram. Danadinhos... amanhã conto mais... vou contar uma piada que eu contava na minha época de menina moça... a piada do bolinho :)
Boa noite, meus queridos.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Existencialismo no Aquário



Viagem com a família e em um desses dias por volta do final de 2011 e começo de 2012 eu fui parar no aquário de Santos.
Nunca tinha ido em algum aquário (mas é claro que já tinha visto animais em aquários), fui certa vez quando criança em um zoológico, mas dessa vez tudo soou de maneira estranha.
Ao chegar no aquário, aquela fila quilométrica. Muitas crianças, inclusive uma delas me acompanhava. Gritos, choros, espera, espera, sol, mais espera.
Entramos. Muvuca. Peixes, muitos deles, tubarões, tartarugas, animais. "Olha mãe", "aaahhhh (grito), uma tartaruga".
E os animais? Por mais acostumados que eles estejam, vi alguns assustados.
Crianças batendo nos vidros, gritando, querendo que o bicho fizesse alguma piruleta pra que pudessem bater uma foto.
E eu? Eu paguei pra ver animais sendo torturados por fleshs de máquinas fotográficas. Eu sei que os biólogos tratam muito bem desses animais e eles estão acostumados com isso, mas a questão aqui não é essa.
A questão aqui é a minha imaginação e a minha náusea.
Naquele lugar eu tive uma visão. Vi alguns extra-terrestres abdusindo alguns seres humanos. Chegando em Marte eles pegaram esses serem humanos, deram ração para eles, colocaram-os em jaulas e depois ficaram batendo nas jaulas, tirando fotos, gritando estéricamente para que os humanos fizessem alguma travessura para que eles pudessem filmar e mostrar para outros ETs como é legal pagar para ver humanos em jaulas.
- "Até quando isso será considerado diversão?", disse um ET existencialista, e os outros responderam "até quando houver ETs pagando para ver humanos em jaulas".

FIM