quinta-feira, 19 de maio de 2011

O Elogio da Loucura



Algumas pessoas hesitam a felicidade.
Certo sábado após assistir o curta “La belle verte”, eu, minha amiga Aline e o namorado dela, meu amigo Lucas, tivemos uma epifania.
A Aline pediu para que eu a pintasse de clown, pois era algo que ela sempre quis fazer, mas que nunca tinha coragem e oportunidade. Nisso o Lucas se animou e começou a se pintar também. Depois me convenceram a me fantasiar e pronto, lá estavam os três clowns felizes num sábado nublado.
De repente resolvemos sair na rua pra ver a reação do público. Quem esperaria ver três palhaços rindo durante um sábado em pleno horário de jogo?



Fomos até a padaria mais próxima e para nossa surpresa somente quem estava trabalhando lá foi quem nos deu atenção, sorriu, interagiu... a maioria das pessoas nem perceberam nossa presença e algumas ignoravam. Ver o jogo naquele momento, para alguns, era prioridade. Pra que rir com um bando de retardados que entraram numa padaria todos fantasiados? “Sai da frente, seu louco, eu quero assistir o jogo, porra!”, foi o que ouvimos dos clientes do local.
Não satisfeitos, fomos até o mercado mais próximo que por sinal é pertinho da padaria (aqui tudo é perto).




E, chegando lá, para nossa surpresa, fomos ignorados por todos que estavam trabalhando, com uma rara exceção: o segurança do mercado saiu correndo atrás da gente, nos abraçou e disse: “o mundo precisa mesmo é de mais alegria, obrigado pela visita”. Nossa! Só essa frase e a atenção dos demais já valeu muito apena ter feito esse teste de “ver a reação das pessoas num sábado nublado”.
De uma coisa sabemos: John Lennon nos deixou um legado, só com amor se construirá amor, só com sorriso receberemos sorrisos. É gradativo, não é amanhã que mudaremos o mundo, o sorriso de um palhaço é tão sincero quanto de uma criança que acabou de comer um bolo de chocolate.
All you need is love... it’s so easy, the love is all you need!



Seriam os loucos aqueles que são emancipados? Quem é livre? Por que não rir do ridículo? Por que não ser ridículo?

Não hesitem, sejamos felizes! É tão fácil :)

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O melhor jeito de morrer



Texto extraído de um e-mail particular.
Uma reflexão sobre a morte :)


É claro que ninguém quer morrer, mas mesmo assim o assunto surge nas conversas, as piores e as mais amenas formas de passar dessa pra melhor.
Curioso como quase todos entram em acordo quanto às maneiras mais angustiantes de esticar as canelas: sempre mencionam "afogado", "quimado", "soterrado", além de algumas formas de asfixia. Alguns ainda mencionam que estar num prédio em chamas, prestes a desabar, e ter que saltar de lá de cima é pouco atraente.
Mais engraçado ainda como o consenso sobre a melhor forma de bater as botas é ainda maior! Nunca ouvi alguém dar uma resposta diversa de "morrer dormindo".
Nunca gostei disso... Sempre achei que abotoar o paletó de madeira dessa forma te privaria de passar alguns últimos minutos com alguém querido. Considerava muito interessante a ideia de pular do prédio em chamas; sentir uma última emoção antes de me espatifar no chão. E pularia fazendo pose de Superman!
Mas...
Na quinta-feira passada meu avô teve um treco aqui em casa. Diagnóstico: infarto agudo do miocárdio. Sorte que tinha gente em casa. A ambulância chegou bem rápido; se não, nem precisaria ter vindo... Enfim, ele escapou. E nunca vou esquecer do que ele me disse no pronto-socorro: "Pensei que eu não fosse chegar...". Foi um tremendo susto, uma correria pra conseguir vaga na UTI e, no dia seguinte (sexta-feira), meu avô foi internado em Praia Grande.
Na UTI só eram permitidas quatro visitas por dia. Minha mãe e minha avó eram presença obrigatória, pois estavam monitorando o estado do velho. No sábado minha tia-avó veio de São Paulo ver meu avô, então eu não pude ir. No domingo, finalmente, depois do choque inicial, pude ver meu avô. Meu irmão e eu demos um jeito de burlar a segurança do hospital para que seis visitantes entrassem na Unidade.
Meu avô estava fraco, mas já sem aparentar sofrimento. Não olhava nos olhos, não sei por que motivo, e não sorria, acho que por causa da dor. Só falava, com a boca entreaberta. Conversamos por alguns minutos, comentamos o susto que ele tinha me dado, de como ele estava sendo bem tratado...
O velho sempre foi livre. Não havia camiseta que o prendesse, não existia peixe que ele não pescasse, goiaba que ele não apanhasse, casa que ele não construísse... Aquela gaiola não era lugar pra ele...
Então ele começou com um papo estranho. Achei desagradável na hora... Dizia que ele já tinha vivido a vida dele e que eu tinha que viver a minha, que tinha cuidado de mim por toda a vida e eu só tinha dado alegria a ele, que não devia me preocupar. Eu retruquei: como é que eu podia não ficar preocupado? Eu ainda iria dar muitas alegrias pro velho! Logo ele estaria em casa de novo, preparando as coisinhas dele pra pescar... Era a minha vez de cuidar dele. Além disso, ele ainda iria conhecer os bisnetos dele!
Nesse ponto da conversa ele sorriu... Por um segundo ele sorriu. E eu solucei. Quase chorei de alegria por poder proporcionar uma alegria ao meu avô, um vislumbre agradável de um futuro em que ele participava.
Não me lembro do resto da conversa...
Dia seguinte, fui de novo até o hospital. Meu tio-avô tinha ficado de aparecer por lá, mas quando chegamos ele não estava. Minha avó e minha mãe entraram, como de praxe. Depois que as duas saíram, comemorando a rápida recuperação do velho, que lhe garantira alta da UTI para o próximo dia, perguntaram se eu não queria ver meu avô um pouco. Eu falei que não, que meu tio, qeu vinha de São Paulo, poderia chegar depois e acabaria perdendo a viagem. Eu, como moro mais perto do hospital e já havia visitado meu avô, poderia vê-lo num outro dia. Além disso, contava com a melhora de seu estado de saúde.
Hoje, como vinha acontecendo há alguns dias, minha avó e minha mãe rumaram para o hospital. Eu não quis ir... Simplesmente não quis. Fiquei em casa estudando.
...
Ouvi o carro estacionando, duas horas mais cedo do que deveria. Daqui de dentro de casa, da sala, dava pra ouvir os gritos da minha avó. Pensei o pior... Pensei o melhor... Afinal, ela berra por tudo! Devia ser só mais uma discussão. Fui ver o que era.
Não era uma discussão...
Saíram do carro apressadas, minha avó aos prantos, os vizinhos se aproximando pra ver o que era. Berrava, vermelha, sem sair som: "Ele morreu!".
Já com alta da UTI, meu avô pediu para o médico deixar que ele se sentasse um pouco numa poltrona. O médico atendeu ao pedido. Sentado, o velho começou a sentir cansaço e pediu pra voltar para a cama. Teve outro infarto. Desta vez não teve socorro que bastasse.
Toda essa história serve pra eu chegar à minha conclusão: qual a melhor maneira de morrer, na minha singela opinião. Não sou a pessoa mais indicada para dar lição de moral, odeio filosofia barata, não suporto mensagens bonitinhas que saem aos montes com a extensão .pps.
Descobri que, para mim, o ideal seria que, num belo dia, a gente percebesse que o corpo está cansado e, com alegria e sem dor, se despedisse de todos os que fossem sentir saudade. Uma despedida com a ciência de ser a última, mas que não causasse angústia, já que feita de modo ameno. Assim seria fácil partir em paz.
Mas a realidade é um pouco diferente. A morte vem com dor, sem pressa...
Mas meu avô teve a melhor morte do mundo. Ele teve tempo para perceber que estava chegando a hora dele, de aceitar isso, de rever algumas pessoas e de se despedir. Aquele papo estranho, embora eu me recusasse e desconversasse, era a despedida dele. Aposto que ele teve paz, que eu não tive, já que não aceitei o momento que ele entendeu ser oportuno para o adeus.
Também não sou fã de "e a moral da história é...", mas acho importante destacar isso: durante o tempo em que meu avô esteve internado eu desperdicei algumas oportunidades de vê-lo (isso sem contar nas inúmeras durante a vida...). É um erro que não pretendo cometer de novo.
Bom... Esse e-mail teve um fim e um final que eu não esperava. De qualquer forma, aí vai meu desabafo e - quem sabe - uma contribuição.
Té mais!

ps: um beijo pro Renan ^_^